Na última sexta-feira, foi inaugurado no nosso campus o novo auditório, a residência universitária e o RU. As obras entregues fazem parte do Programa de Expansão das Universidades Federais. Nosso campus foi criado em 1981 e em 2011 olhamos e vemos que temos todo o potencial pra ser gente grande.
Enquanto estudante do curso de História e acho que falo por todos, estamos todos satisfeitos com a nova estrutura do campus. Claro, falta muita coisa, mas enfim, falamos disso em outro momento.
Ás 17 horas, tudo pronto, tudo muito bem, tudo muito bonito, dondocas arrumadas (algumas fantasiadas de animais silvestres), autoridades políticas municipais (sim, Gil Paraibano estava entre nós, que dia glorioso) e estaduais, a Diretora do campus Hercília Maria Lins Rolim Santos e o Magnífico Senhor Reitor. Ah sim, no meio disso tudo tinha a presença humilde de uma professora da UESPI. A imprensa estava lá. TV Picos, alguns jornalistas. O circo, digo, a festa estava completa.
Sim, os alunos, essa gente sem classe, também estavam lá. Quando menos se espera, alguns alunos do Curso de Nutrição, da nossa querida Diretora, entram no nosso novo rico auditório com cartazes tão pobres, feitos á pincel falhado e papel barato. Gritando horrorosamente: “paredes não dão aula!”. Que coisa feia!
Isso foi o que passou na cabeça da alta sociedade presente, e sinto em dizer, em alguns dos muitos alunos presentes também, inclusive alguns alunos no próprio curso de Nutrição. Salvo, tenho certeza, os conscientes da História e dos demais cursos e os bravos de Sistemas de Informação, que prepararam ali os seus próprios cartazes e as suas reclamações.
Ignorância a minha, militante do movimento estudantil do campus, não saber antes da situação do curso de Nutrição. Mas, segundo os alunos presentes, a falta de professores no curso é alarmante. Ou seja, manifestação legítima e eu e alguns outros, de outros cursos, estávamos lá, dando o maior apoio enquanto as autoridades apenas nos ignoravam.
Enquanto o Reitor falava, ouvia-se vaias da maioria dos estudantes e palmas fervorosas de quem não era estudante, por estes quero dizer, a nobreza que estava esperando ali a hora de jantar no RU. Enquanto isso, a TV Picos percebeu que não poderia abafar o acontecido e só depois filmou os estudantes, não sei se foi ao ar.
A Diretora subiu ao palco do auditório extremamente vaiada. Fosse eu, tinha saído correndo pra casa chorar. Mas discursou, e não fez referencia alguma á manifestação. Um representante do DCE também subiu ao palco e infelizmente fingiu também não notar os estudantes. Decepcionante.
Na segunda fala do Reitor, no seu discurso, não houve como evitar. “Os dele” que estavam lá, nos olhavam de cara feia e de nojo. As dondocas batiam palma cada vez que saia um ar da boca dele. Mas os estudantes não se calaram. Uma gritou: “Na sua casa tem professor, aqui não tem”. Visivelmente irritado, o Reitor chama a estudante de mal educada e como se não bastasse ter dito esse absurdo, ainda enche o peito pra falar que na casa dele tem dois professores, o pai e a mãe. Enquanto a nobreza ria da piada de muito mau gosto e da desmoralização gratuita á uma estudante que se manifestava legitimamente por uma educação acadêmica melhor, os estudantes lamentavam por na casa do Reitor haver mais professores por metro quadrado do que no curso de Nutrição.
Enquanto a esse episódio último, quero parabenizar essa estudante. Você, uma das poucas do seu curso, foi brava e forte. Uma pessoa que faz o que você fez, que se manifesta em favor não só da própria educação, mas pelo de seus colegas também, que exprime sua voz em benefício dos estudantes e da educação só pode ter uma das melhores instruções que se pode ter. Eu, enquanto futuro professor, só desejo ensinar aos meus futuros alunos, exatamente isso.
Em sua fala, o Reitor tenta desmoralizar também a manifestação. Aponta um dos cartazes em que dizia “Estrutura 10, Professor 0” para agradecer o “reconhecimento dos estudantes”. Acho que ele só conseguiu ler a primeira parte do cartaz. Fala da contratação de professores e reconhece que ainda não é o suficiente. Apresenta um fato novo pra mim (peço que alguém me atualize). Dizia ele, que alguém, enviou uma denuncia ao Ministério Público pra investigar á universidade, pois se estaria comprando carros luxuosos para o campus. Tudo ficou confuso, até mesmo pelo barulho e de o Reitor se embaralhar na fala. O que eu sei é o que se fala, que tem algum ou alguns veículos que são alugados. Continua seu discurso e arranca palmas. Infelizmente, de alguns estudantes também.
A inauguração continua e segue seu caminho ao RU. O Reitor caminha com a Diretora e se aproximam de mim, enquanto o Reitor fala “reclamam do ônibus, pois vamos tirar o ônibus”. Tive que intervir. Disse que não é bem assim, falei que ele estava se confundindo, pois nenhum aluno em hipótese alguma, reclama do ônibus da universidade e que isso seria loucura, pois o transporte público de Picos é uma vergonha, seja pelo preço ou pela qualidade no serviço.
Ele, nervoso, agora tenta dizer que aqui os alunos reclamam de barriga cheia. Argumentei de que os alunos estão pedindo professores. Ele perguntou de curso eu era, e respondi. Disse que sou da História e que não tenho absolutamente do que reclamar (claro que eu tenho), mas a Nutrição precisa de professores e que essa é a reclamação da manifestação e que por tanto legitíma. Enfim, a Diretora entra na conversa e diz que foram contratados 2 professores pra Nutrição na semana passada e o Reitor afirma novamente que contrata professores mas eles que não querem ficar no campus.
Ora, retruquei. Mas é claro, se os professores chegam aqui e não encontram na cidade a mínima estrutura pra morar, viver, criar seus filhos, eles vão chegar e vão embora mesmo. Picos pelo porte que tem devia ser muito mais do que se apresenta. E não é só pela cidade, o professor tem uma carga horária sobrecarregada, a Universidade só oferece o mínimo quando muito pra pesquisa e tem que garantir as condições para o professor se estabelecer na universi... Antes que eu terminasse a minha fala ele disse: “Você está enganado, compare. Olhe Bom Jesus, ali é um buraco”. Depois ele simplesmente resolveu não mais me ouvir, virou as costas e partiu.
Acho que o Reitor está completamente enganado em relação a Bom Jesus. Não conheço a cidade, mas um lugar que tem um dos maiores números (per capita) de Doutores no Brasil (ver
aqui)é um lugar perfeito para trabalhar. Principalmente se você é professor na universidade, imaginem os recursos, as possibilidades, enfim...
Concluindo meu texto, fazendo o balanço de todo o ocorrido tiro alguns apontamentos para os alunos e outras pessoas que não se posicionaram a favor do movimento. Hoje temos um RU, auditório novo, novas salas, residência universitária e um pá de coisas, mas tudo isso não foi construindo porque o Reitor é de infinita bondade. Prestem atenção no uso político das obras e em que se nortearam todos os discursos da noite. Lembrem-se que estamos chegando perto das eleições para Reitor, lembrem-se que estamos numa universidade pública e que os recursos provem do Governo Federal, dos nossos impostos e não da mão abençoada do Reitor. Tudo o que o que o Reitor inaugurou, é apenas o trabalho dele, que ele tem a obrigação de fazer. Saibam que o nosso magnífico, almejando o Guinnss, é o primeiro reitor da UFPI e de Universidades Federais brasileiras a responder ao mesmo tempo a seis Procedimentos Administrativos Disciplinares e a três Ações Civis Públicas (ver
aqui). E por fim, como bem disse um: "tijolo não dá aula".